quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

DO DIÁRIO DA ALINE - "A MULHER DA CADEIRA ELÉTRICA"


E a Aline contribuiu com o "Centauro Alado" dando outro relato de situação que aconteceu com ela dia desses. A história seria até engraçada não fosse o desconhecimento de algumas pessoas e a falta de tato para lidar com os seres humanos. Valeu, Aline!



A MULHER DA CADEIRA ELÉTRICA por Aline Massoni

"Certo dia fui ao supermercado Big de Viamão comprar um relógio em uma joalheria que tem dentro do mercado. Ao entrar no estabelecimento, vi que o produto estava mais caro do que eu esperava e então,  saí da loja.
Ao aproximar-me da rampa que dá acesso ao estacionamento, decidi parar pra ligar pra minha mãe, pois ela é que iria me dar o relógio de presente. Quando eu parei pra procurar o celular na minha bolsa percebi que se aproximava uma funcionária com um sorrisinho de Monalisa. Nesse momento senti que vinha chumbo.
Ela olhou pra mim e disse:
-  Tu estás bem arrumadinha, toda combinando!
Eu completamente sem graça só dei um sorriso amarelo.
E ela continuou...
- Ainda bem que tu tens essa cadeira elétrica que te leva pra onde tu quiser!
Nesse momento eu pensei:
“Eu não fiz nada para estar numa cadeira elétrica, não cometi nenhum crime”. Segurei a vontade que eu estava de rir! Pelo visto, ela não sabia diferenciar uma cadeira motorizada (usada para locomoção de pessoas com deficiência) de uma cadeira elétrica (usada como instrumento de pena de morte).
Aí ela disse:
- Essa cadeira deve custar caro, não?
E eu respondi:
- Ah, sim quase dez mil reais.
A mulher fez uma cara de espantada e prosseguiu:
- Tu usa até aparelho nos dentes!
Eu a ignorei e comecei a procurar o celular na minha bolsa, na esperança de que ela parasse por ali.
 Doce ilusão... A funcionária continuou...
- Só te faltam os brincos...
E eu ali fazendo de conta que nem era comigo... Nesse instante eu achei o celular na bolsa e comecei a ligar pra minha mãe.
A mulher olhou pra mim, e disse:
- Tu tens até celular!!!
Comecei a conversar com a minha mãe como se ela não estivesse ali. Nesse momento, acho que ela se tocou que estava sendo ignorada, sorriu pra mim, passou as mãos em meus ombros e foi embora.
Depois que eu encerrei a ligação com a minha mãe, comecei a tentar entender o que se passava na cabeça daquela mulher e o que ela estava realmente querendo dizer...
Pra mim foi como se ela dissesse assim:
-Nossa, tu nasceu com tantos defeitos, tu custa caro mas deu sorte que tens alguém que te dê as coisas  e que cuide de ti!
Me senti como se eu fosse uma cadelinha de estimação, que apesar de ser apenas uma vira- lata  é cuidada como se fosse de raça.
Até onde se limita a palavra “ deficiência “? Em apenas uma limitação física? Ou, significa o antônimo de eficiência? Quem é deficiente físico não é eficiente em mais nada?"
                                                                    Aline Massoni

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