domingo, 10 de abril de 2011

FÁBRICA DE MONSTRINHOS - MASSACRE EM REALENGO


     O massacre dos estudantes em Realengo faz pensar. Como dizem os budistas, só crescemos de dois jeitos: ou pelo amor, ou pela dor. Realengo foi pela dor. Nada do que se pense, se diga ou se faça vai diminuir a tragédia vivida naquela manhã de quinta-feira. Quanto mais detalhes nos chegam sobre a ação do atirador, mais revolta e comoção se espalham por todos os cantos. Só quem esteve dentro da escola naquela manhã é que sabe realmente o que foi aquilo. Aos outros, restará a dor e a confusa sensação do inaceitável.
     Por isso, me pergunto... Quantos Wellingtons existem espalhados por esse Brasil à fora?
     A família do matador não foi reconhecer o corpo do rapaz, a fim de providenciar o seu funeral – funeral aliás, que ele programou na sua carta - , e se tudo continuar do jeito que está, o atirador será enterrado como indigente. Teremos aí uma “vingancinha social”? Ou seja, vamos fazer justamente o oposto do que ele pediu que fosse feito na sua confusa e derradeira carta?
     Penso que agora, isso tanto faz. O matador executou a sua ação e pôs fim a própria vida e, o destino do seu cadáver  é o de menos. O que me preocupa é porque ele não foi reconhecido enquanto estava vivo. Assisti a uma entrevista do irmão do matador, que vive em Brasília, e que com medo de ser reconhecido, não mostrou o rosto. Entre outras coisas, o irmão de Wellington disse que o rapaz sempre manifestou tendências “anormais” e que ficou fascinado pelos eventos ocorridos nas Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001.
     Falou também, que algumas vezes, a família teria insistido no tratamento de Wellington, mas que ele sempre fugia da terapia. Isso me apavora. Se um desajustado deste porte, capaz de executar tão friamente suas vítimas não consegue ser reconhecido e detido a tempo de trazer para a ação o que os seus delírios fanáticos lhe inspiram, o que nos resta fazer?
     Neste exato momento, quantos Wellingtons não estarão ouvindo vozes, e tramando outros massacres, tudo sem serem identificados? São brasileirinhos que também estão tendo suas vidas interrompidas, talvez não pelo tsunami de sangue de Realengo, mas pela Sociedade – tal qual a família do atirador de quinta-feira – que não reconhece quem está precisando de ajuda.
     Se identificarmos e soubermos o que fazer com futuros Wellingtons – antes é claro que seus delírios passem para o plano do concreto – talvez possamos daqui pra frente ter um outro desfecho, diferente do massacre da escola Tasso da Silveira.
     Nossa Sociedade é  uma fábrica de monstrinhos, e aí, lembro de Darwin e da sua Teoria da Evolução, onde o ambiente influencia aspectos do ser vivo, incluindo é claro, as suas ações. O que esperar de uma Sociedade que tem como  deputado federal um tal de Jair Bolsonaro (PP –RJ), que vai a um programa de TV  dizer que seus filhos não se envolveriam com homossexuais ou com negros porque nao são promíscuos? Ou da Justiça que libertou o bancário Ricardo José Neis que atropelou ciclistas em Porto Alegre como se estivesse jogando boliche?
     Não venham me dizer que são coisas diferentes, porque não são. Tudo está interligado. Um pastor fervoroso e preconceituoso, por exemplo, pode fomentar a loucura de um desequilibrado com seus sermões e motivá-lo a atrocidades, assim como uma Justiça ineficiente pode endossar e estimular crimes como o do nosso jogador de boliche macabro.
     Realmente, se o indivíduo já possuir uma tendência biológica ao desajuste (tendência esta que até pode ser contida e direcionada), e viver numa Sociedade onde aspectos tão primitivos todos os dias são irrigados, teremos (como estamos tendo) a Tenebrosa Fábrica de Monstrinhos, onde ao invés de rios de chocolate da Fantástica Fábrica de Chocolates do Tim Burton, veremos rios de sangue e de lágrimas.
por Cristiano Refosco em 10 de abril de 2011

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