quarta-feira, 6 de julho de 2011

SÍNDROME DO ENCARCERAMENTO: A LUTA DE KATE




      Quando Kate Allatt acordou, viu que faltavam dez minutos para as três e se perguntou quem estaria indo pegar as crianças no colégio.
      Depois, se perguntou por que havia um tubo saindo de sua boca.
      Foi quando descobriu, em estado de pânico e sentindo muita dor, que não conseguia se mexer.
      ‘Só conseguia mover minhas pálpebras. Eu chorava, mas não havia barulho.’
      Kate, hoje com 40 anos, tinha ficado três dias em estado de coma induzido. O tubo que saía de sua boca estava conectado a uma máquina que a mantinha viva.
      A ausência de movimentos era resultado de uma das condições mais terríveis conhecidas na medicina: a Síndrome do Encarceramento.
      Após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC, conhecido vulgarmente como derrame), a paciente ficou com suas condições mentais intactas – perfeitamente consciente de tudo o que acontecia à sua volta – porém incapaz de mover qualquer parte de seu corpo.
      ‘Tudo doía. Na síndrome do encarceramento, o problema é que você tem todos os sintomas da paralisia mas sente toda a dor’.
      Ela não conseguia imaginar a vida daquela maneira. E para piorar as coisas, os que estavam à sua volta não perceberam, inicialmente, que ela estava consciente.
      Kate conta que quis morrer.
      ‘Minha vida não era nada do que costumava ser e eu ia ser para sempre uma observadora da vida dos meus filhos. Eu queria ser aliviada daquele sofrimento.’

       Enxaqueca
     Tudo começou algumas semanas antes, com uma aparentemente inofensiva dor de cabeça.
      No dia 6 de fevereiro do ano passado, seu marido, Mark, cansado das reclamações da mulher, levou-a ao médico.
      As primeiras pistas de que havia algo mais sério começaram a se revelar na chegada ao hospital. Sintomas de um AVC maciço, provocado por um coágulo em seu cérebro.
      ‘Enquanto ele estacionava o carro, fui falar com a enfermeira e comecei a enrolar as palavras. Ela me mandou para o pronto socorro imediatamente.’
      ‘Me mandaram para casa com comprimidos para enxaqueca e, cinco horas mais tarde, depois de descansar em minha cama, desci as escadas e perguntei ao meu marido: ‘O que está acontecendo comigo?’ Ele ouviu apenas um monte de sons sem sentido algum’.
‘Então caí no chão desmaiada.’

Comunicação
      Até sofrer o AVC, Kate cuidava do seu próprio negócio, uma companhia de marketing digital, e se preparava para realizar o sonho de sua vida: escalar o monte Kilimanjaro, na Tanzânia.
      Agora, os médicos diziam que a paciente, mãe de três filhos, tinha 50% de chances de sobreviver.
      E mesmo que sobrevivesse, eles acreditavam que havia poucas chances de que ela voltasse a andar.
      No entanto, logo aconteceu a primeira, ainda que pequena, vitória contra a condição – graças ao marido de Kate, Mark, e sua melhor amiga.
      ‘Uma semana após o AVC, eles estavam conscientes de que eu estava muito entediada. Queriam que eu assistisse TV’, ela conta.
      ‘Escolheram um programa e eu comecei a piscar violentamente, como se dissesse, ‘Não quero assistir isso!”
      ‘Então, me fizeram uma pergunta que requeria sim ou não como resposta, por exemplo, uma piscada, não, duas piscadas, sim.’
      Dessa forma, Kate Allatt restabeleceu a comunicação com o mundo à sua volta.
      Na oitava semana após o AVC, outra pequena vitória:
      ‘Consegui fazer um movimento mínimo – menos do que metade de um milímetro – no meu polegar direito.’
      Além das pálpebras, era o primeiro movimento que ela fazia desde o AVC.
      Kate não se deixou entusiasmar pelo ocorrido, mas seus movimentos foram voltando aos poucos. Ela começou a escrever e a usar o site de relacionamentos Facebook para se comunicar com amigos e o mundo à sua volta.
      Poder se comunicar novamente, usando a internet, foi outra grande conquista.
      E em breve, com a ajuda do filho Woody, e desafiando todas as avaliações médicas de sua condição, Kate recuperou a fala.
      ‘Estava escrevendo algumas palavras para ele ler, já que eu não conseguia falar.’
      ‘Então Woody me disse, ‘Mãe, não escreva meu nome. Fala o meu nome, fala o meu nome!”
      ‘E eu disse apenas ‘Oody!’ Foi um momento incrível para eles, todos choraram. Eles foram embora e eu fiquei praticando o fim de semana todo, como eu fazia com todos os meus exercícios.’
      O fim de semana que ela passou praticando valeu a pena, para a felicidade de Oliver, o enfermeiro favorito de Kate.
      ‘Na segunda pela manhã, Oliver entrou no quarto com uma caixa.’
      ‘Ele disse: ‘Bom dia, Kate!’ E eu respondi: ‘Bom dia, Oliver!’ Não tão claramente, mas respondi. Ele derrubou a caixa, começou a chorar e disse: ‘Foi por momentos como esse que decidi entrar para a enfermagem”.

Caminhando
      O relacionamento de Kate com Oliver ficou mais forte, e ela contou a ele que pretendia sair andando do hospital que tinha sido sua casa por tantas semanas.
      E não apenas isso. Ela disse ao enfermeiro que, um ano após o AVC, queria voltar a fazer algo que adorava: correr.
      Oliver concordou, mas não pareceu muito convencido.
      ‘No dia 29 de setembro, saí andando do hospital. No dia 6 de fevereiro deste ano, um ano após o AVC, corri 20 minutos. Os dois (acontecimentos) estão no YouTube.’
      Após deixar o hospital, ele e o marido decidiram renovar as juras do casamento em frente a mais de 200 pessoas, familiares e amigos.
      ‘Chorei como um bebê andando em direção ao altar.’
      Agora, após contar seu drama no livro’Running Free: Breaking Out from Locked-in Syndrome’ (Correndo com liberdade: Saindo da Síndrome do Encarceramento, em tradução livre), o próximo desafio de Kate será correr uma milha (1,6 km) até o Natal deste ano.


Fonte: G1 (05/07/11)

Um comentário:

  1. EMOIONAD POR SABER QUE TEM HISTORIA DE SUPERAÇÃO DIANTE AUMA SINDROME CONSIDERADA POR MUITOS MEDICOS QUE É INREVESSIVEL

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