sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A CRIANÇA CEGA - PARTE 1

 

Os pais e a criança cega.

      Todos os pais esperam ansiosamente o nascimento do seu filho, mas, quando a criança nasce cega, ou fica cega pouco depois do nascimento, os pais ficam chocados. Por vezes ficam mesmo esmagados pelo enorme desgosto. Isto pode ser devido ao fato de nunca terem conhecido uma pessoa cega, lembrando-se apenas dos cegos que viram na rua a pedir esmolas ou a vender cautelas. Não têm conhecimento de que existem milhares de pessoas cegas que exercem cargos de responsabilidade e bem remunerados, que desempenham atividades especializadas ou são administradores de negócios. Não conseguem conceber a idéia de não conseguir ver. Pensam que a criança sentirá a cegueira da mesma forma que eles.
       A criança que nasceu cega não sabe o que é ver. Nem tão pouco sabe que está privada de algo, que lhe falta qualquer coisa. E não se aperceberá disso durante bastante tempo. Não sabe que é diferente dos outros, portanto é tão feliz como qualquer outra criança. Até se aperceber de que não vê, pode ter-se tornado uma pessoa feliz, que encara a vida como qualquer outra criança. Pode sentir que é amada e desejada pelos pais e que consegue viver a sua vida plenamente. Geralmente a maior parte dos pais necessita de bastante tempo para se acostumar à idéia de que o seu filho não pode ver.

Os outros pais podem ajudar.

      Alguns pais sentem-se apoiados se conversarem com os pais de outras crianças cegas. Os pais que já ultrapassaram a angústia dos primeiros meses e que viram o seu filho crescer, podem dar esperanças aos pais que se vêem agora confrontados com a mesma situação. Podem dizer-lhes que, à medida que o tempo passa, e que a criança começa a crescer e a desenvolver-se, eles terão orgulho nela e nas suas conquistas.
      Traumatizados pelo desapontamento e pela tristeza, por vezes os pais sentem dificuldade em se aperceberem de que o filho é antes de tudo uma criança. Ser cego é apenas um aspecto da sua vida, mas a sua vida tem muitos outros aspectos. A cegueira não o torna tão diferente de uma criança que vê, como geralmente se pensa. Na realidade, tem muito mais semelhanças com a criança que vê do que diferenças. Portanto, quanto mais os pais aprenderem sobre a criança, mais a poderão ajudar.
      Como acontece com todos os pais, a mãe e o pai de uma criança cega querem que tudo o que acontece ao seu filho contribua para desenvolver a autoconfiança e a independência. Querem que ele coma, ande, se vista, brinque com outras crianças, vá à escola e tenha uma vida social como todas as outras.

A criança cega precisa daquilo que todas as outras precisam.

      Há certas coisas que todas as crianças precisam: Precisam de saber que são amadas e desejadas e que são membros importantes da Família; precisam de ser capazes de se desembaraçarem sozinhas e gostam que os outros se apercebam disso; precisam de conhecer a sensação de ter feito algo bem feito; precisam de desenvolver continuamente as suas capacidades. A criança cega precisa de tudo isto tanto como as outras.

O início.

      Durante os primeiros meses tudo o que a criança precisa é de comida, sono e mimo. Pegar nela, apertá-la ao peito e passear com ela pela casa contribuem para que se sinta amada e segura. A criança nasce desejosa de conhecer as coisas do mundo exterior e de percorrer todos os lugares. Mas se não vê, precisa de ser estimulada a pegar nos objetos e a mexer-se por meio de palavras, de sons e de uma grande variedade de objetos para manipular. Assim essa curiosidade inata levará ao seu crescimento e desenvolvimento.
      Para começar, a criança cega precisa de ser levada de um local para o outro muito mais do que qualquer outra criança. Ela gosta de ouvir as conversas das pessoas que a rodeiam e gosta, sobretudo, de que falem com ela. Deve sentar-se a criança amparada com almofadas durante algum tempo todos os dias, na mesma idade em que isso se faz com as crianças que vêem.
      Se a criança cega souber que existe um fio atravessado no seu berço com objetos vários pendurados ela começará a esforçar-se por alcançar e manusear esses objetos.
      Alguns pais só muito tarde começam a brincar com o filho cego. Não o fazem saltar nos seus joelhos e muitas vezes nem sequer lhe pegam. Todos os bebês gostam dessa brincadeira e de demonstrações de carinho sejam cegos ou não. Podem ser pequenos, mas não são frágeis e apreciam uma boa brincadeira com o pai ou com a mãe. Deve sempre dizer-se ao bebê quando se lhe vai pegar ao colo. Caso contrário ele poderá assustar-se se lhe pegarem, de repente, sem contar.

Ajude-o a começar.

      Alguns pais deixam o seu bebê cego demasiado tempo deitado no berço - mesmo quando ele próprio já quer movimentar-se e pôr-se em pé agarrado às grades. Fazem isso com medo de que ele se magoe quando começar a andar de um lado para o outro. Mesmo quando o colocam no chão, limitam-lhe o espaço. A maior parte das crianças cegas podem perfeitamente explorar o espaço exterior ao berço. Utilizam-no para andar à sua volta e para se segurarem quando querem ficar em pé, logo após conseguirem manter-se sentadas e tocar o chão.
      Pode ser necessário estimular a criança cega a dar alguns passos fora do seu ambiente natural, para sentir a diferença entre o tapete e o chão liso, para tentar encontrar os carrinhos que se puseram em determinado local para ela. Mas não deve nunca forçar-se a isso. Nesse dia ela pode não estar disposta a fazer novas experiências e pode mesmo recusar-se a fazê-las. No dia seguinte ou dois dias depois poderá ser ela própria a querer fazer esse "jogo". Deve dar-se à criança liberdade para ser ela a decidir.
      A criança que vê agarra os objetos à sua volta e movimenta-se para os ir procurar. Uma criança cega não procura no desconhecido a menos que seja motivada nesse sentido. Uma voz ou um som que chame a sua atenção - um sino por exemplo - pode ser o ponto de partida para que ela se desloque em sua direção.
      Alguns pais tentam atrair a criança utilizando o seu brinquedo preferido ou orientam-no nas deslocações tocando-lhe de leve. Até ao momento em que a criança começa a deslocar-se na sala ou no local onde costuma permanecer, o seu campo de exploração é extremamente limitado e os objetos que manuseia também o são. Para além disso o movimento é importante, não só para o conhecimento do mundo que a rodeia, mas também para o seu desenvolvimento muscular.

A criança cega é igual a qualquer outra intelectualmente.

      No início, algumas crianças cegas podem ser mais lentas na execução de certas atividades e na aprendizagem. Esta lentidão pode preocupar os pais. Podem ser levados a pensar que o seu filho tem um atraso mental, contudo a lentidão não é fator indicativo de deficiência intelectual. As crianças cegas têm a mesma capacidade de aprendizagem que as outras crianças. A maior parte são intelectualmente médias, algumas ligeiramente abaixo da média e algumas são mesmo super dotadas, como de resto acontece com as crianças em geral.
      Ainda não se conseguiu um teste suficientemente válido para avaliar a capacidade intelectual da criança cega, contudo os psicólogos, os assistentes sociais e outros técnicos que trabalham com crianças com deficiência visual, são unânimes em afirmar que existe uma ligação estreita entre o nível de desenvolvimento e aprendizagem que a criança consegue atingir e as oportunidades e a segurança que lhe foram dadas.
      Os pais de uma criança cega podem esperar que ela participe em certas tarefas, tal como acontece com as outras crianças. Não é necessário esperar "que ela seja mais velha", pois, para algumas, ela já tem a idade suficiente e apenas necessita de ter oportunidade. Se a criança cega tiver as mesmas oportunidades que uma criança que vê, tornar-se-á do mesmo modo uma pessoa válida de pleno direito.
      Se os pais chegam à conclusão de que determinada tarefa é demasiado difícil para o seu filho, não o devem forçar para que consiga realizá-la inteiramente, mas devem encorajá-lo, elogiá-lo pelo esforço despendido e tentar de novo em outro momento.
      Se a criança tem ainda resíduos visuais, ainda que seja apenas percepção luminosa, os pais devem estimulá-la a utilizar esses resíduos o mais possível. Alguns pais preocupam-se quando o seu filho ganha o hábito de esfregar ou tocar nos olhos, abanar as mãos em frente a eles, baixar a cabeça ou virá-la de um lado para o outro. As crianças que vêem por vezes também fazem isto, mas perdem esse hábito muito rapidamente, porque têm muitas outras coisas para verem e ocuparem a sua atenção. Quanto menos importância os pais derem a estes maneirismos, melhor. Se a criança cega estiver interessada por outras coisas, deixará aos poucos de fazer isso. É necessário criar condições e esses maneirismos desaparecerão com a idade.

* Traduzido de: "The preschool child who is blind".
U.S. Department of Health, Education and Welfare..
Tradução: DGEBS - Divisão do Ensino Especial - PT.

FONTE: http://www.bengalalegal.com/


 

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