domingo, 2 de junho de 2013

O TURCO


      Aprendi a jogar xadrez quando estava na escola. Não queria fazer Educação Física e aí o jeito era jogar xadrez. A turma era composta por nerds, falsificadores de atestados médicos e gente que não tinha paciência pra ficar correndo atrás de uma bola que o professor soltava na quadra enquanto ia lanchar na cantina. De certa forma, era divertido. Um tabuleiro onde uma guerra entre dois exércitos era travada. Duas atenções fixas nos movimentos das peças enquanto o mundo continuava acontecendo lá fora. Era 1992. Ano em que o presidente Collor sofreu o impeachment e que a seleção masculina de vôlei ganhou medalha de ouro nos jogos olímpicos.
      Reis, rainhas, bispos, torres, cavalos e peões. Cada um com valor específico. Lembro que havia um cara cujo apelido era Lobão (por causa dos cabelos compridos) e que jogava muito bem. Me ensinou que o segredo do xadrez era conseguir prever os próximos 5 lances do adversário. Bruxaria ou técnica? Eu, sinceramente, não acreditava que ele fosse capaz de prever os movimentos. O fato é que ele era bom, pelo menos ali, entre nerds e falsificadores.
      Aí, dia desses vi na tv um programa que falava do Turco. O Turco foi uma máquina criada no século 18 pelo barão Wolfgang Von Kempelen e que jogava xadrez. Era apresentado como um espetáculo de mágica, pois parecia algo de outro mundo uma máquina que se movia e que desafiava grandes jogadores de xadrez.  Derrotou enxadristas como Napoleão Bonaparte e Benjamin Franklim e estava envolto em mistérios.
       Antes de jogar, alguém abria todo o dispositivo do Turco e mostrava que não tinha ninguém ali dentro. Porém, muito tempo depois, descobriu-se que havia um anão (atualmente pessoa com baixa estatura) muito bem escondido num dos compartimentos e que executava os movimentos. Jogar xadrez com o Lobão que era de carne e osso parecia tranquilo. Porém, jogar xadrez com uma máquina sinistra que se movia sozinha e que sugeria  trazer  consigo algo de sobrenatural ou pelo menos de misterioso, não devia ser fácil. Aí embaixo vai a foto de uma réplica do que teria sido o Turco, há mais de duzentos anos atrás. Achei sinistro.


por Cristiano Refosco

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