domingo, 16 de junho de 2013

SAINDO DO ARMÁRIO

     
 
      E o povo brasileiro está saindo do armário. O que há por trás das manifestações que explodiram no país? Indignação, com certeza. Aí vem o Arnaldo Jabor dizer que quem está na rua protestando são filhos da classe média que não valem nem vinte centavos. Historicamente, grandes revoluções (e aí vamos desde a farroupilha até a francesa) foram arquitetadas pelas oligarquias contrárias a uma ordem e pela classe média. Nos anos de chumbo da ditadura militar, foram os filhos da classe média que foram para as ruas protestar contra o regime, que deram suas caras a tapa e que foram mortos e torturados. Numa sociedade que marchava com Deus pela família, os rebeldes que engrossavam as passeatas eram vistos como comunistas e desordeiros. A história, felizmente os redimiu.
      Agora, enquanto vivemos o auge de uma democracia confusa e controversa, a facção do povo que está na rua protestando entre outras coisas por vinte centavos (sim, vinte centavos faz a diferença na vida de milhões de brasileiros que não estarão nos estádios assistindo aos jogos da Copa onde se investiu bilhões de reais), é chamada de baderneira. Aí vem aquele discurso pronto e redondinho que muitos reproduzem sem pensar: “acho legal protestar, mas de uma forma pacífica”, ou então “não pode depredar o patrimônio público”. Infelizmente, num campo de batalha, a violência de ambos os lados acontece. Quem começou? Foram os PMS (assalariados e sem treinamento) ou foram os baderneiros? Nem um, nem outro... Quem começou isso tudo está longe das avenidas e das ruas. Quem começou isso tudo esteve nas nossas casas, nos horários políticos e nos prometeu que lutaria pelos nossos direitos. Queimar ônibus, incendiar lixeiras e pichar monumentos é legal? Claro que não. Alguém pagará por isso e não serão os políticos que ontem nos seduziam em suas campanhas e que agora jogam a polícia contra o povo com bombas e cacetetes. E desviar dinheiro público é legal? E senador ficha suja é legal? E gastar bilhões de reais com uma Copa do Mundo que está transformando o país num enorme canteiro de obras inacabadas e feitas as pressas enquanto se diminui o salário de professores no nordeste é legal?
      Infelizmente, para as nossas autoridades políticas, manifestações pacíficas e controladas nunca foram motivo de preocupação, afinal, tudo no Brasil é esquecido. Agora, quando se vai pra rua gritar, trancar avenidas e se manifestar, as autoridades se assustam. Faltando um ano para um evento internacional que voltará os olhos do mundo para o país do futebol, parece que timidamente, o povo brasileiro começa a sair do armário da mudez e da apatia e a se assumir como brasileiros que somos. Começou aqui em Porto Alegre, foi para Goiânia e chegou até São Paulo e Rio de Janeiro.  
      A “Revolta dos 20 centavos”, como talvez ficará conhecida essa onda de manifestações pelo país no futuro, carrega consigo mais do que o valor simplório de 20 centavos. Ela sinaliza um alerta e um basta a todo esse circo de corrupção e impunidade onde o povo é sempre a principal vítima.

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