sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

CORAÇÃO MISSIONEIRO - PARTE 3

 




    Desde pequeno, as imagens da velha igreja sempre me chamaram a atenção, e agora eu estava ali. Quando entrei pelo portão principal das igreja, percebi que ela não era tão grande quanto eu imaginava. De cara dava para ver  os fundos da construção. Não fiquei nem um pouco frustrado, afinal, aquilo tinha sido uma igreja, não um palácio.
No período colonial, portugueses e espanhóis disputavam o território onde hoje fica o Rio Grande do Sul. Em síntese, os portugueses (bandeirantes) escravizavam os índios, enquanto os padres jesuítas os catequizavam nas suas reduções. Foram sete os povoados criados pelos jesuítas no Rio Grande: São Francisco de Borja, de São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio.

     Na tarde anterior, conforme fiquei sabendo depois, 26 ônibus de excursões tinham estado nas ruínas, com estudantes de todo o Estado. O chuvisco que eu cheguei a pensar que atrapalharia minha visitação, acabou sendo um elemento de sorte: ninguém nas Missões, a não ser eu e o meu guia taxista. Caminhamos pelo interior e fiquei fascinado com a simplicidade - e ao mesmo tempo com a altivez - das pedras sobrepostas e que davam forma a igreja. Ali, naquele mesmo chão onde meus pés agora passeavam, padres e índios tinham estado de joelhos, crianças tinham sido batizadas, cantos e salmos tinham sido proferidos com fervor. Um mundo perdido e testemunhado pelas pesadas pedras que repousavam naquele canto do mundo.

    São Miguel não é a mais antiga das reduções. Esse título fica com a redução de São Francisco Borja, que foi fundada em 1682Mais de quatrocentos anos de história separando a aventura jesuítica missioneira da minha visitação nas ruínas, naquela tarde de outubro. Agradeci a Deus por meus devaneios criativos e pela capacidade de ir além: enquanto a maioria dos visitadores vai a São Miguel e vê apenas ruínas, eu via um mundo repleto de significados. O cheiro dos índios e dos padres ainda está por lá... Basta fechar os olhos e puxar o ar para dentro do peito. 


CRISTIANO REFOSCO 

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