quarta-feira, 18 de março de 2015

SEM COMENTÁRIOS... OU NÃO...



    Ontem, deparei-me com esse texto que mais merecia ser publicado no mural do esquisito aqui do blog, mas, vamos lá...

 
PRETO NO BRANCO  por SILVIA PILZ (JORNAL O GLOBO)
 
     Eu quero voltar pro mundo onde anões eram chamados de anões e não de pessoas verticalmente prejudicadas. De cara, um anão assusta, assim como, de cara, crianças com Síndrome de Down também nos causam certo desconforto.
 
    De cara um anão assusta? Eu, particularmente, me assusto com gente que não possui nenhum dano intelectual, mas que é capaz de  fazer esse tipo de comentário .  Para começar, não existem "pessoas verticalmente prejudicadas" nem aqui e nem na China. O termo correto é "pessoa com baixa estatura". Estudar um pouquinho antes de falar "m" é importante, principalmente se for sobre um assunto que você não conhece. Crianças com Síndrome de Down te geram desconforto? Mais sensato ficar desconfortável diante de crianças passando fome nas ruas. Comprovadamente, barriga vazia tem danos muito mais nocivos na vida de um ser-humano do que  um cromossomo a mais na sua  estrutura genética .
 
    Disfarçar o estranhamento é mais vergonhoso que demonstrá-lo. É covardia. Crianças não disfarçam. Perguntam, tentam entender e optam por se aproximar ou não. É tão, mas tão hipócrita essa regra de tratar o diferente com naturalidade que chega a ser uma forma de desprezo invertido.

    Crianças não disfarçam, é verdade, assim como não controlam os esfíncteres quando pequenas, mas creio que você não seja mais criança. O que você chama de "disfarçar" , eu chamo de "reconhecer" e de entender que todos somos diferentes.  Por isso,  devemos educar nossas crianças  desde cedo para que, mesmo cientes de que todos são diferentes de alguma forma, não ajam com estranheza diante do que não é igual ao próprio umbigo.
 
    Eu quero voltar pro mundo onde negros eram chamados de negros, já que chamá-los de afrodescendentes não mudou em nada o preconceito que eles sofrem, sofreram ou sofrerão. Todo mundo quer ser branco e ter olhos claros. Negras alisam cabelos, pais e mães, quando resolvem adotar bebês, vão pro Sul do país. Se bem que os mini-afrodescentes estão em alta. Simbolizam o “eu não tenho preconceito”, porque o que acontece em Hollywood, depois de um tempinho, acontece aqui. Parece uma espécie de campanha na qual quem adotar o mais feio garante seu lugar no céu.

    Todo mundo quer ser branco e ter olhos claros? Talvez isso seja um desejo seu, não me inclua nisso. Ser chamado de negro não é ofensa, mas talvez você tenha saudades de um mundo onde termos como "preto" ou "coisa de preto" eram usados como sinônimo de arrogância e superioridade. Pena que para você seja inconcebível que um casal possa querer adotar uma criança "mini-afrodescendente" por se afeiçoar a ela e por amá-la.  Aliás, pelo seu texto, crianças negras já são feias por natureza, ou pelo menos, mais feias do que as brancas, ao ponto de serem adotadas por caridade.
 
    O colono sofre desse mal. Ele quer ser parecido com quem o colonizou. Deve ser instintivo, primitivo. Como diria um dos meus melhores amigos, se Michael Jackson acordasse no enterro dele, teria uma síncope ao ver tantos pretos ao seu redor. Melhor exemplo de preto que detestava ser preto não há.

    Para finalizar, "Diz-me com quem andas, que te direi quem és"... Infeliz a observação do teu amigo sobre o Michael Jackon. Ele nasceu negro e morreu negro, independente das modificações físicas a que tenha se submetido. Usar como parâmetro alguém que nitidamente deu sinais de descontrole emocional durante a vida é, no mínimo, inconsequente e apelativo e me soou como uma tentativa de naturalizar e justificar os seus preconceitos mais intrínsecos. Lamentável mesmo.

Cristiano Refosco
 
 

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