terça-feira, 29 de setembro de 2015

O BARÁ DO MERCADO DE PORTO ALEGRE


 
    Há uma lenda urbana porto-alegrense que confere ao Mercado Público o status de santidade pagã. É uma beatificação torta que estende sua mística sobre toda a cidade e seus habitantes. Na Praça Paraíso, local onde foi erguido o centro comercial, já se vão quase 150 anos, não havia nada de misterioso: nenhum milagre foi registrado, cemitério indígena algum restou violado. Ao contrário: o lote à beira do Guaíba sacralizou-se pelo erguimento do prédio, a partir da sua existência. Reza o mito que o Mercado Público foi entregue à guarda de Exu.
 
    O assentamento é o procedimento utilizado para aglutinar a energia do orixá em determinado lugar. Uma vez consagrado, esse ponto ganha um dono, um ente vedor, um regente. As oferendas depositadas ali mantêm viva a influência da entidade e a ligação dela com seus fieis. No fundo do mais antigo centro comercial da cidade, alguém teria plantado um Bará. As versões sobre a origem do ritual variam. Uma concede a autoria aos escravos, artífices na construção do empreendimento, como forma de proteção ao assédio dos senhores brancos e augúrio de fartura. Numa modulação improvável da mesma história, um dos escravos teria morrido durante a obra; sem disporem de meios ou local para enterrá-lo, os demais cativos o sepultaram em pé, bem no centro das fundações.
 
 
 
 
    A principal voz corrente sobre a lenda indica que o Bará do Mercado foi ali colocado por Custódio Joaquim de Almeida, um príncipe africano egresso do Reino de Daomé, atual Benim, domiciliado em Porto Alegre no início do século XX.
 

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