segunda-feira, 18 de julho de 2016

GRANDES IMPERADORES - CALÍGULA

 

      

        Caio César Augusto Germânico, vulgo Calígula, nasceu em Âncio, província de Roma na região do Lácio, no dia 31 de agosto do ano romano 765, ou seja, no ano 12 de nossa era. Seu pai era Germânico, sobrinho de Tibério, e sua mãe, Agripina Maior, neta de Augusto.

    Psicopata, narcisista, assassino, depravado. Segundo Suetônio escreveu no século 2 em A Vida dos Doze Césares, era simplesmente um monstro.
 
        
        As comemorações pela indicação de Calígula como autoridade suprema teriam levado à degola 60 mil prisioneiros em cerca de três meses. Mas aquilo era só o começo - Roma nunca havia presenciado tamanha perdição. O imperador tratava abertamente a irmã Drusilla como esposa. Servia-se também das outras irmãs, Livilla e Agripina, e as prostituía. Costumava promover banquetes e orgias que culminavam com a tortura e execução de prisioneiros. Obrigava, inclusive, as esposas dos auxiliares mais próximos a participar das festas. "Quase não houve mulher, por menos ilustre que fosse, que ele não tivesse desrespeitado", diz Suetônio. Para o historiador romano Cássio Dio, "não havia homem mais libidinoso".

       Perdulário, suas extravagâncias incluíam pérolas banhadas em vinagre como aperitivo. Gastava tanto dinheiro que a dada hora se viu obrigado a confiscar propriedades e a criar impostos sobre tudo, até a prostituição.

Cena do filme "Calígula", de 1979
 

      Atribuía a si mesmo qualidades divinas. Encomendou da Grécia uma estátua de Júpiter Olímpico, mandou cortar a cabeça e a substituiu por uma inspirada na sua própria. Num templo dedicado a ele, ostentava uma estátua de ouro em tamanho natural, vestida todos os dias com uma cópia de seus trajes.

       Líder incompetente, humilhava com frequência seus pares, na indiscrição dos banquetes ou na política. Nomeou o cavalo Incitatus magistrado superior de Roma. O animal era mantido num luxuoso estábulo dentro do palácio imperial. E Calígula exigia que os senadores despachassem com o colega equino.

        Para baratear os custos de manutenção das prisões abarrotadas, ordenou que detentos fossem trucidados para servir de ração aos demais. A todos esses "espetáculos", o imperador assistia com deleite e queria companhia - obrigava os familiares de condenados a testemunhar a tortura e a execução. Uma das modalidades preferidas era jogá-los às feras nas arenas de plateia lotada. A cada dez dias, elaborava uma lista de quem deveria ser morto.

        Um crápula completo, certo? Errado. Calígula não é tão diferente dos demais imperadores romanos. E, até pelo pouco tempo que permaneceu no poder, quatro anos, conseguiu feitos importantes. Mas a fama de maníaco atravessou os séculos intacta - que o diga o filme Calígula, de 1979. Mas por que sua imagem foi tão deturpada?
 
     
      Um olhar atento sobre os autores das histórias originais a respeito do imperador ajuda a esclarecer as distorções. Como autoridade política, Calígula trabalhou sobretudo para concentrar poder, confrontando o Senado e a aristocracia romana. Os historiadores da época dependiam ou eram representantes do Senado. "É como tentar entender a história do século 21 e tudo o que sobrou foi o tabloide National Enquirer (uma espécie de Notícias Populares americano)", diz Anthony Barrett, professor de história romana na Universidade da Columbia Britânica. "É uma fonte importante, mas não pode ser tomada como totalmente verdadeira. Os fatos demandam análise crítica e é preciso tentar corroborá-los com evidências arqueológicas."

       O filósofo Sêneca, o Jovem, fez um dos poucos relatos contemporâneos ao governo. Ele era rival da dinastia Júlio-Claudiana, à qual pertencia o imperador. Acabou exilado em 41. Suetônio, conhecido por abordar seus personagens sob o viés mais pitoresco possível, escreveu sete décadas após a morte do governante. Já Cássio Dio o fez quase 200 anos depois. Dos Anais de Tácito sobre Caligula, uma das narrativas mais confiáveis da Roma antiga, apenas algumas referências são encontradas hoje. "São textos literários, com pretensões retóricas, e não científicas", diz Paulo Sergio de Vasconcellos, professor de letras clássicas da Unicamp.

       A revisão desses textos, confrontados com investigações arqueológicas e o estudo de moedas do período, está longe de reproduzir um maluco desvairado. Para entender quem era o jovem de 24 anos que assumiu o posto mais importante da Terra, é preciso conhecer sua trajetória.

continua...

FONTE: http://guiadoestudante.abril.com.br/



 

    

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