sábado, 23 de julho de 2016

GRANDES IMPERADORES - CALÍGULA



     
      Aos 7 anos, Roma comovida recebeu Calígula, que acompanhava o cortejo fúnebre do pai, o idolatrado herói militar Germânico. No ar, pairava a suspeita de que ele fora envenenado por ordem do imperador Tibério. A família de Germânico, que era sobrinho e filho adotivo do soberano, representava uma sombra perigosa ao seu poder. A mãe de Calígula, Agripina Maior, que trabalhava nos bastidores para garantir a ascensão do primogênito Nero Germânico (o Nero acusado de tocar fogo em Roma era sobrinho deste - e de Calígula) foi condenada por traição e exilada com o filho. Ambos morreram no exílio. O filho do meio, Drusus Germânico, preso, não sobreviveu aos maus-tratos na cadeia. As mortes na elite romana eram comuns à época. Não havia uma definição clara para a sucessão no poder, o que alimentava golpes, assassinatos e o terror de Estado.

      Em 37, a capital aguarda, ansiosa, a confirmação do soberano escolhido para substituir Tibério. O imperador a quem Jesus Cristo chamava de César morrera aos 78 anos, recluso, na sua fortaleza na ilha de Capri. O autoexílio a 300 km de Roma só agravou o fim melancólico de um governo focado nas conquistas militares, severo nos gastos e contrário aos jogos nas arenas. A guarda pretoriana (um misto de segurança particular do imperador, agência de inteligência e polícia secreta) era a face mais temida do Estado, que executou por suspeita de traição inúmeros cidadãos nos anos anteriores. Era com esperança e certo alívio que a população receberia o novo regente.
 
      Tibério tinha sido adotado por César Augusto, seu antecessor. Já Calígula vinha da linhagem direta dos Césares - sua mãe era neta do já legendário Otaviano (ou César Augusto, quando tornou-se o primeiro imperador, sobrinho-neto do ainda mais legendário Júlio César). Ao lado do pai general, cresceu entre as tropas, vestido como um soldado, o que lhe rendeu o apelido carinhoso de pequena bota - "calígula".

 


      Caio Júlio César Germânico, o... Botinha, "experimentou em primeira mão a briga pelo poder. Tinha consciência da sua popularidade, mas foi a público para defender a sua família. Como resultado, conseguiu salvar a própria vida", afirma Sam Wilkinson em Calígula (sem edição em português). Por volta dos 18 anos, foi convocado com as irmãs para morar na fortaleza de Capri com Tibério. Lá, teve, de acordo com as fontes históricas, uma vida de prisioneiro. Foram seis anos na presença do algoz de sua família. O que aconteceu na fortaleza só pode ser inferido - são citados casos de devassidão e crueldade tão graves quanto os que seriam atribuídos ao futuro imperador. O que se sabe ao certo é que Calígula não teve treinamento formal em administração e economia, militar ou sobre como lidar com os senadores. Mas soube agradar o soberano. Antes de morrer, em 37, Tibério indicou Gemelo, seu jovem neto, e Calígula à sucessão. Ele tinha 25 anos e mostrou-se um político sagaz. Em conluio com a guarda pretoriana chefiada por Macro, conseguiu assumir o poder sozinho: anulou o testamento de Tibério sob o argumento de que ele estava senil.


 
Calígula na tumba dos seus antepassados


      Seguindo o que no século 20 seria conhecido como um ditado mafioso - "mantenha os seus amigos perto e os inimigos mais ainda" -, nomeou Gemelo como seu herdeiro e lhe deu o título de princeps iuventutis (o primeiro entre os jovens). Em uma só tacada, calou as vozes dissonantes e resolveu o problema com um cargo politicamente nulo. Diferentemente de seus antecessores, logo obteve o poder absoluto. Seu governo começou de forma muito promissora, mas, após sete meses no poder, o terceiro imperador de Roma (e o mais infame) sofreu uma doença séria, que culminou com as narrativas de loucura e perdição. Os sintomas incluem convulsões, fadiga e alterações de humor. Fala-se em epilepsia, sífilis, intoxicação por chumbo (oriundo do tratamento das peles onde era guardado o vinho para obter o paladar preferido do imperador). Para historiadores modernos, há varias confusões de datas e informações contraditórias sobre Calígula. As evidências arqueológicas oferecem outras perspectivas.


continua...


FONTE: http://guiadoestudante.abril.com.br/

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