segunda-feira, 5 de setembro de 2016

SOMOS TODOS PARALÍMPICOS?


     

      Há duas semanas atrás, a polêmica que tomou conta da mídia foi a foto da campanha da Vogue onde a atriz Cléo Pires aparecia caracterizada como amputada do membro superior e onde o ator Paulinho Vilhena aparecia com uma prótese de membro inferior. O grande questionamento que muitas pessoas começaram a fazer foi o porquê de não usar atletas paralímpicos para a campanha.  Algumas entidades ligadas às pessoas com deficiência alegaram que isso era "capacitismo" (quando consideramos pessoas com deficiência inferiores a pessoas sem deficiência), e que era um absurdo os atletas paralímpicos não terem tido representatividade na campanha.

      A Vogue explicou que o uso das imagens dos atores sem deficiência era apenas uma das fases da campanha, e serviu sim, para chamar a atenção sobre os Jogos Paralímpicos que estavam com vendas baixíssimas de ingressos.  Todavia, acho equivocada a maneira pela qual algumas entidades tentam se apropriar da deficiência como se ela fosse apenas uma questão de quem tem deficiência. Não, não é. Qualquer um, em qualquer momento da vida pode vir a ter uma deficiência.

      Inclusão e acessibilidade são tópicos que deveriam dizer respeito a todos, e acho que nesse ponto a campanha foi muito válida: fazer as pessoas que não têm deficiência perceberem que a deficiência não é algo tão distante ou apenas do outro. Também entendo a comparação com brancos pintados de negros, que vi em muitos  comentários, como desproporcional. Um branco nunca vai ser negro, assim como um hetero nunca vai ser gay. Já deficiência, qualquer um pode vir a ter. 


FOTO ORIGINAL COM CLÉO PIRES, PAULO VILHENA (EMBAIXADORES DOS JOGOS PARALÍMPICOS) E OS ATLETAS PARALÍMPICOS BRUNA ALEXANDRE E RENATO LEITE

       
      Quanto ao "capacitismo" ao qual algumas entidades acusaram a campanha, vale lembrar que a mesma não estabeleceu comparações, mas sim, ousou introduzir a deficiência onde ela originalmente não estava, como forma de justificar o logo "somos todos paralímpicos". E aí, chegamos talvez ao problema da campanha, ao meu ver: o logo. Não, não somos todos paralímpicos. Tem gente que está pouco ligando para questões como deficiência, acessibilidade ou inclusão, e talvez para estes, ver uma atriz famosa como uma amputada, tenha sido um soco na boca do estômago. Vai ver,  porque desconhecem que 70% das deficiências são adquiridas por conta do comportamento do indivíduo. Ou tavez, por serem confrontados com a realidade: sim, qualquer um de nós pode vir a fazer parte desta estatística. Afinal, a  deficiência não está somente no coleguinha com transtorno do espectro autista do seu filho ou no cego que atravessa a rua com a sua bengala branca.  Ela pode fazer parte das nossas vidas de uma hora para outra.
     



POSICIONAMENTO DO COMITÊ PARALÍMPICO SOBRE A CAMPANHA DA VOGUE
    

     


CRISTIANO REFOSCO

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